Enfrentar a desigualdade para superar a AIDS – UNAIDS visita a Gestos
Na manhã da última quarta-feira (25), a Gestos recebeu a visita da Diretora e Representante do UNAIDS no Brasil, Claudia Velasquez, e da Assessora para Apoio Comunitário, Ariadne Ribeiro. Elas estiveram representando o programa das Nações Unidas em uma visita conjunta com o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (pela Secretaria de Proteção Global) para discutir o recente aumento dos casos de violência contra pessoas LGBTQIA+ (principalmente a população trans) e aproveitaram a ocasião para visitar organizações parceiras na construção de respostas sociais ao HIV. Na sede da ONG, ambas conversaram sobre o papel das Organizações da Sociedade Civil na formação de respostas ao HIV e também sobre o lema do UNAIDS para o Dia Mundial de Combate à AIDS (1º de dezembro): “Pôr fim às desigualdades, à AIDS e às pandemias”.
https://twitter.com/gestospe/status/1464012890411876352
“Para nós, do UNAIDS, a única forma de fazer com que o cuidado em HIV seja centrado na pessoa é contando com a parceria sempre presente da sociedade civil, através das ONGs”, pontuou Claudia Velasquez, Diretora e Representante da organização no Brasil, destacando a capilaridade das ações promovidas pelas OSCs para levar serviços de atenção especializada às comunidades mais vulneráveis que muitas vezes não são alcançadas integralmente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Para isso, cita como exemplo a articulação entre saúde, assistência social e assessoria jurídica. ”É sempre importante que organizações como a Gestos estejam ajudando a gente nesse sentido, para que esses gaps sejam preenchidos. O SUS é maravilhoso, é incrível, mas ainda assim não tem a capilaridade que chega às comunidades mais pobres”.
Leia também:
Gestos é homenageada no 8º Recifest
Plantão da Prevenção realiza testagens e formações no Dezembro Vermelho
Gestos vence 3º Desafio de Acesso à Justiça do Instituto Mattos Filho
Para a diretora do UNAIDS, “isso também é outro ponto da nossa estratégia, criar espaços para que a comunidade possa participar da resposta [ao HIV]”. Ela também chama a atenção para o papel da organização como financiadora de projetos e iniciativas comunitárias: “achamos que a própria comunidade tem as melhores ideias e pode aplicar as soluções que precisamos, se permitirmos a ela implementar. Esse é um dos nossos focos, colocar fundos e realmente ver essa parceria funcionar, porque nós sempre falamos dentro da UNAIDS que a responsabilidade da resposta não é somente do Governo, é de todos/as”.
Contudo, as respostas necessárias à AIDS e a qualquer outra pandemia passam, fundamentalmente, pelo combate à desigualdade social. Por isso, o programa das Nações Unidas tem encarado o combate à desigualdade como o principal caminho para a construção de um mundo livre da AIDS. “No passado, em todas as estratégias globais que a UNAIDS desenvolveu ao longo do tempo, sempre soubemos que precisávamos pautar o combate contra o estigma e a descriminação; mas isso sempre ficava de lado”, explicou Claudia. “O foco sempre foi o biomédico, assegurar o diagnóstico e tratamento no seguimento das pessoas vivendo com HIV. Esse foco foi muito forte e funcionou; mas chegamos a um limite e não estamos conseguindo realmente alcançar essas pessoas que chamamos de ‘mais vulneráveis’”, explicou Claudia, considerando ainda que os principais fatores são todas as barreiras sociais e interseccionais estabelecidas, como: pobreza, falta de emprego, falta de educação, falta de dinheiro/meios de subsistência e oportunidades econômicas.
A nova estratégia construída pela UNAIDS foi pautada naquilo pactuado na Declaração de Paris e, pela primeira vez, estabelece metas especificamente focadas nos compromissos firmados pelos Estados Membros da ONU na Reunião de Alto Nível (em setembro deste ano). “Com isso já temos uma ferramenta para começar as negociações com os países e como vamos conseguir atingir essas metas. Essa é uma das respostas mais críticas para acabar com a AIDS. É a parte que falta!”, disse Cláudia
“A descriminação é o combustível da desigualdade!”, complementou Ariadne Ribeiro, Assessora para Apoio Comunitário da UNAIDS. “Todo gestor público, todo político sabe o quão caro é a redução das desigualdades para o desenvolvimento de um país. Todos sabem! Mas quando a gente fala de sub grupos marginalizados, nenhum deles entende a importância, porque você acaba personificando a ideia da desigualdade num grupo que ainda é atingido pelo preconceito desses líderes. Ou seja, precisamos sim reduzir as desigualdades. Onde elas estão? Em grupos que foram historicamente marginalizados. É a forma que temos de chegar em quem mais precisa e efetivamente não deixar ninguém para trás”.
“A UNAIDS tem um papel fundamental, pois nossa missão principal é acabar com a epidemia de HIV/AIDS”, conclui Claudia. “Ainda não temos uma vacina para o HIV, mas temos todas as ferramentas para vencê-lo. Sabemos como chegar às populações, temos uma estratégia que pode funcionar. Agora nossa missão é convencer os governos e todos os atores para que se mantenham engajados e comprometidos com essa missão. Isso vai envolver não só a área de saúde, pois sabemos que não iremos atingir esse fim somente trabalhando com uma perspectiva biomédica. Necessitamos involuntariamente de outras áreas, como Direitos Humanos e Proteção Social. Estamos compartilhando da visão de que, para uma pessoa vivendo com HIV atingir o bem-estar social, ela precisa receber um pacote de serviços, não somente um acompanhamento médico, um diagnóstico, ou um tratamento”.