Onde estão Bruno e Dom?
A Gestos – Soropositividade, Comunicação e Gênero expressa, por meio desta nota, sua preocupação com o desaparecimento do indigenista Bruno Araújo Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips, que foram vistos pela última vez no domingo (5), após deixarem a comunidade ribeirinha São Rafael com destino ao município de Atalaia do Norte.
Expressamos também nossa indignação com a ausência de respostas do Governo Federal diante deste caso, mesmo frente à repercussão do caso na imprensa internacional e após a Justiça Federal (atendendo a um pedido da Defensoria Pública da União) ter determinado, na quarta-feira (8), que a União garanta reforços nas buscas, viabilizando o uso de helicópteros, embarcações e equipes de buscas – seja da Polícia Federal, das Forças de Segurança ou mesmo das Forças Armadas.
Entendemos que a omissão do Estado frente a este caso apenas reflete o conjunto de violações dos direitos humanos e ambientais das populações tradicionais sistematicamente empreendidas pelo atual governo, fazendo dobrar a ação de madeireiras e o garimpo ilegal em terras indígenas nos últimos três anos – como revelou o levantamento do MapBiomas (que reúne universidades, organizações ambientais e empresas de tecnologia), construído a partir dados do Sistema de Detecção do Desmatamento em Tempo Real (Deter ), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
De acordo com a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), a equipe técnica da instituição vem sofrendo ameaças recorrentes, as autoridades já estavam cientes dessas tentativas de intimidação, mas nenhuma providência foi tomada. É assustador constatar que esse tipo de violência seja paulatinamente empreendida contra a sociedade civil à luz do dia de maneira naturalizada.
No início deste mês, o Coletivo RPU Brasil divulgou um diagnóstico sobre o cumprimento das recomendações feitas ao Brasil pelo Alto Comissariado das Nações Unidas (ONU) para os Direitos Humanos, revelando que mais de 80% delas não foram cumpridas e que quase a metade estava em retrocesso. Além disso, o Brasil é o quarto país que mais mata ambientalistas no mundo, de acordo com relatório da ONG Global Witness.
O ciclo de violência que o país enfrenta historicamente precisa urgentemente ser encerrado; mas para isso é preciso que os esforços da sociedade civil sejam reconhecidos e abraçados pelo Estado. Seguiremos cobrando respostas efetivas do Governo Federal para que o mundo descubra onde estão Bruno e Dom e o que será feito dos responsáveis pelo seu desaparecimento?