Em Recife, Gestos se une ao ato pela descriminalização do aborto
O 28 de setembro marca o Dia de Luta pela Descriminalização e Legalização do Aborto na América Latina e Caribe. O tema ganhou destaque no debate público nas últimas semanas, após o Supremo Tribunal Federal (STF) iniciar o julgamento sobre a descriminalização do aborto no Brasil. Para pressionar o Estado em favor do direito de meninas, mulheres e pessoas com útero, diversas cidades no país realizaram protestos de rua. Em Recife, o GT Jovem da Gestos – programa apoiado pela International Planned Parenthood Federation (IPPF) se uniu a outras organizações feministas, que saíram em ato na Avenida Conde da Boa Vista.
A coordenadora de Programas Institucionais da Gestos, Jô Meneses, ressaltou a importância do ato como uma forma de provocar conversas na sociedade e enfatizou a necessidade de discutir questões relacionadas ao aborto, incluindo a situação de meninas e mulheres vítimas de violência sexual.
“A gente sabe que esse é um tema sobre o qual ainda existe muita polêmica”, comentou ela; “muito disso ainda se deve à falta de informações corretas, o que termina afastando as pessoas dessa discussão que é tão importante; o Estado precisa se posicionar sobre questões como a gravidez na infância e o aborto clandestino – que é inseguro e vitima mulheres pobres, e a gente tem uma mortalidade grande dessas mulheres, exatamente por fazerem aborto inseguro. Então foi chamado também nas falas a atenção de que o Estado continua vendo as mulheres morrerem.
Atualmente, o direito ao aborto no Brasil é assegurado em apenas três casos: quando a gravidez é fruto de estupro, quando oferece risco à vida de quem gesta e/ou em caso de anencefalia. Contudo, a ilegalidade do aborto não impede sua prática – como comprovam dados do Instituto Anis, que mostram que a cada ano cerca de um milhão de gestações são interrompidas no Brasil.
“Chamamos muito a atenção para a gravidez na infância, que é uma espécie de tortura”, continuou Jô Meneses,”uma criança tem que estar vivendo um outro mundo, um mundo lúdico, um mundo de brincadeiras, e não vivenciando violência e gravidez”.
Só 2022 registrou 74.930 casos de estupro, segundo dados da 17ª edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública; desse número 56% das vítimas tinham menos de 13 anos. De acordo com dados do Sistema Único de Saúde (SUS), mais de 17 mil adolescentes tornaram-se mães em 2021, com a maioria delas sendo negras e de baixa renda.
“Não existem ações que garantam a vida dessas mulheres, como educação sexual e conversas nos territórios sobre métodos contraceptivos e direitos sexuais e reprodutivos. Precisamos falar sobre aborto e a necessidade de legalizá-lo, pois quanto mais clandestino, mais inseguro e quanto mais inseguro, mais mulheres morrem”, conclui a coordenadora de Programas Institucionais da Gestos.