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No Dia Internacional da Democracia, Sociedade Civil pede que a comunidade internacional apoie o Estado Democrático de Direito no Brasil

No Dia Internacional da Democracia, Sociedade Civil pede que a comunidade internacional apoie o Estado Democrático de Direito no Brasil

Reprodução do GT Agenda 2030

 

O Grupo de Trabalho da Sociedade Civil sobre a Agenda 2030 (GT Agenda 2030) – coalizão brasileira que monitora a implementação dos compromissos nacionais no campo do desenvolvimento sustentável – junto com outros coletivos, redes, articulações e organizações da sociedade civil brasileira, compôs uma carta dirigida à comunidade internacional alertando sobre a grave situação de ameaça à democracia em curso no Brasil, que se intensifica com a proximidade das eleições em outubro. As organizações pedem maior atenção às ameaças ao processo eleitoral que tem um pedido específico: que estas instituições e governos sejam vocais e demonstrem, de forma concreta, que estão atentas e acompanhando a situação nacional.

Em preparação ao lançamento da carta de Alerta, na última semana de agosto, representantes do GT Agenda 2030 realizaram em Genebra mais de 30 reuniões bilaterais com países-membros das Organizações das Nações Unidas, denunciando os sucessivos ataques do Governo Federal e de seus aliados/as no Congresso Nacional aos direitos humanos, a ativistas que os defendem e às instituições democráticas. “Apesar de todas as missões com as quais conversamos demonstrarem que estão atentas – muitas das quais acompanharam as denúncias apresentadas no relatório do Coletivo RPU Brasil durante a pré-sessão da Revisão Periódica Universal do país, no Conselho de Direitos Humanos da ONU –, todas ficaram surpresas com o nível da tragédia que pudemos detalhar nesses encontros”, diz Alessandra Nilo, coordenadora geral da Gestos e co-facilitadora do GTA2030.

A carta evidencia ainda a preocupação com contexto nacional de desalinhamento do país dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).  “O ODS16, por exemplo, que visa promover sociedades pacíficas e inclusivas, proporcionar o acesso à justiça e construir instituições eficazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis, tem dez das suas 12 metas em retrocesso, uma estagnada e outra ameaçada”, denuncia.  Estes dados estão no Relatório Luz da Sociedade Civil sobre a Agenda 2030, produzido pelo GTA2030 e construído por 101 peritos/as das áreas ambiental, social e econômica. Eles mostram um país cujas políticas, ações e sistemas de monitoramento estão interrompidos; onde orçamentos essenciais foram reduzidos ou esvaziados; e no qual os espaços de participação popular foram eliminados.

No dia Internacional da Democracia, 15 de setembro, a carta, que já conta com mais de 160 assinaturas de organizações, será encaminhada a representantes de diversos países, que estavam presentes no encontro em Genebra. “É de fundamental importância que a sociedade civil brasileira possa se articular para cobrar da comunidade internacional uma enérgica resposta aos ataques sofridos pela democracia brasileira no contexto eleitoral, resultantes não apenas no aumento da instabilidade e da insegurança, como na aceleração do processo de erosão dos espaços cívicos no Brasil”, salienta Pedro Bocca, Assessor de incidência internacional da Abong – Associação Brasileira de ONGs.

O texto, assim, pede especificamente que a comunidade internacional se manifeste publicamente, enfatizando a importância ao Estado Democrático de Direito no Brasil e reforçando o desejo, que é o de todas as organizações que assinam a carta, de que estas eleições sejam seguras para todas as pessoas, ocorram sem mais violências e que o seu resultado seja aplaudido por todos os grupos participantes da disputa.

Confira a carta na íntegra:

 

As organizações da sociedade civil brasileira abaixo assinadas vêm alertar a comunidade internacional sobre a necessidade de vocalização de todos os seus entes, instituições e países diante da grave situação de ameaça à democracia em curso no Brasil, que se intensifica com a proximidade das eleições federais e estaduais em outubro. 

Como já alertado por diversos coletivos, o contexto nacional é bastante preocupante. O Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 16, por exemplo, que visa promover sociedades pacificas e inclusivas, proporcionar o acesso à justiça e construir instituições eficazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis – aspectos fundamentais para qualquer democracia – tem dez das suas 12 metas em retrocesso, uma estagnada e outra ameaçada, e o país segue carente de dados oficiais atualizados para 18 dos seus 22 indicadores, como indica o Relatório Luz 2022 da Sociedade Civil sobre a implementação da Agenda 2030 no Brasil 

Além das ameaças ao processo eleitoral, os sucessivos ataques do governo federal e seus aliados/as no Congresso Nacional aos direitos humanos – inclusive ao meio ambiente e o seu desastroso manejo da pandemia do COVID 19 – os ataques a ativistas que os defendem e às instituições democráticas – com destaque para o judiciário e a mídia –, as mudanças no ordenamento jurídico e a criminalização de movimentos sociais construíram um cenário de regressão democrática no Brasil. A violência política voltou a crescer, a ponto de preocupar a comunidade global e levar o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a organizar um processo inédito de observação internacional das eleições que ocorrerão em outubro.

Depois de reunir embaixadores e embaixadoras de cerca de 70 países, no dia 18 de julho, para levantar suspeitas infundadas sobre as urnas eletrônicas, fato que gerou apreensão nas representações diplomáticas no país, o Presidente da República continua a difundir e intensificar ataques ao sistema eleitoral nacional, criando um ambiente de menor transparência e confiança nos poderes da República. Destacamos ainda o forte incentivo à liberação das armas e à militarização dos espaços civis,  inclusive escolas, o crescimento das violências – particularmente contra mulheres, meninas, povos indígenas e quilombolas, ribeirinhos e do campo, população LGBTQI+, negra, pessoas com deficiência e contra defensores/as de direitos humanos – num contexto de  quase normalização das violências, seja civil, policial e das facções de crimes organizados no país.

Todos estes fatos têm sido denunciados pela sociedade civil organizada em várias instâncias nacionais e internacionais, mas as respostas têm sido insuficientes para reversão do quadro. diagnosticado. Enquanto as forças democráticas buscam amparo em suas fragilizadas instituições, testemunhamos um ambiente de animosidade e de desrepeito às instituições e aos protocolos pelo Presidente da República. 

Enquanto isso, os dados analisados por 101 peritos/as em relação ao cumprimento da Agenda 2030 no país, por exemplo, evidenciam políticas, ações e sistemas de monitoramento interrompidos; orçamentos essenciais reduzidos ou esvaziados; espaços de participação popular eliminados e um menor acesso às informações.  

Em agosto deste ano, foram elaboradas duas cartas, organizadas pela sociedade civil, em defesa do Estado democrático de Direito e do sistema eleitoral brasileiro que levaram milhares de pessoas às ruas, mobilizando distintos setores do país a se manifestarem em favor do sistema eleitoral e da defesa da democracia, pelo respeito aos resultados nas urnas e por um ambiente seguro para a votação.

Diante do exposto, alertamos, que as eleições nacionais em curso no Brasil não representam uma comum disputa eleitoral para manutenção ou renovação dos representantes eleitos, mas significa um momento altamente crítico para a preservação da jovem e frágil democracia instaurada no país com a Constituição de 1988.

Nossa situação de retrocesso político, econômico, ambiental e social se agudiza pelas ameaças de rompimento da ordem democrática e são barreiras ao avanço dos nossos compromissos e metas internacionais para o desenvolvimento sustentável. Ressaltamos que o aprofundamento do autoritarismo e de políticas antidemocráticas podem levar o Brasil a um cenário de conflito e tensões ainda maiores.

Pedimos, assim, maior atenção das as autoridades, instituições internacionais e governos de todo o mundo comprometidos com a defesa de valores democráticos. E lhes pedimos que se posicionem de forma aberta em defesa da democracia, das eleições livres no Brasil e do total respeito ao seu resultado e ao espaço cívico da sociedade civil brasileira, em suas distintas faces.

 

Assinam esta Carta:

  

  1. Grupo de Trabalho da Sociedade Civil para a Agenda 2030
  2. 350.org
  3. 5 Elementos – Instituto de Educação para a Sustentabilidade
  4. ABIA/GTPI
  5. ABONG – Associação Brasileira de ONGs
  6. Acampa pela Paz e o Direito a Refúgio
  7. Ação da Cidadania  – Comitê Pará
  8. Ação Educativa
  9. ACT Promoção da Saúde
  10. ActionAid
  11. AGANIM-RJ – Associação de Gays e Amigos de Nova Iguaçu, Mesquita e Rio de Janeiro
  12. Agentes de Pastoral Negros do Brasil (APNs)
  13. Agroflor
  14. Aliança Nacional LGBTI+
  15. AMAVIDA – Associação Maranhense para a Conservação da Natureza
  16. Amazona
  17. Articulação AIDS Pernambuco
  18. Articulação Brasileira de Lésbicas – ABL
  19. Articulação para o Monitoramento dos Direitos Humanos no Brasil
  20. Artigo 19 Brasil
  21. Associação Alternativa Terrazul
  22. Associação Barraca da Amizade
  23. Associação Brasileira de Combate ao Lixo no Mar
  24. Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji)
  25. Associação Casa da Mulher Catarina
  26. Associação de Agricultores Alternativos
  27. Associação dos Agentes Comunitários de Saúde
  28. Associação dos Trabalhadores Aposentados Pensionistas e Idosos de Viamão – ATAPIV
  29. Associação Mulheres na Comunicação
  30. Associação Nacional dos Centros de Defesa
  31. ASSOLIB – Associação Solidariedade Libertadora
  32. Avante Educação e Mobilização Social
  33. AVhiVER
  34. Biblioteca Comunitária do Céu
  35. Campanha Nacional pelo Direito à Educação
  36. Casa da Cultura da Baixada Fluminense
  37. Católicas pelo Direito de Decidir
  38. CCAPTB BR – Comitê Comunitário de Acompanhamento de Pesquisas em Tuberculose no Brasil
  39. Cenpec
  40. Central de Movimentos Populares de Goiás – CMP-GO
  41. Centro das Mulheres De Ribeirão Sandra Rodrigues
  42. Centro de Convivência É de Lei
  43. Centro de Cultura Prof. Luiz Freire
  44. Centro de Desenvolvimento Agroecológico Sabiá
  45. Centro de Prevenção às Dependências
  46. Centro Dom Helder Câmara de Estudos e Ação Social – CENDHEC
  47. Centro Ecumênico de Cultura Negra – CECUNE
  48. Centro Nacional de Africanidade e Resistência Afro Brasileiro – CENARAB
  49. Centro Nordestino de Medicina Popular
  50. CESE – Coordenadoria Ecumênica de Serviço
  51. CFEMEA – Centro Feminista de Estudos e Assessoria
  52. ChavismoSUR
  53. CLADEM Brasil – Comitê Latino-Americano e do Caribe para Defesa dos Direitos das Mulheres
  54. COEP- PERNAMBUCO – BRASIL
  55. Coletivo Clã das Lobas
  56. Coletivo Feminino Plural
  57. Comitê de Energia Renovável do Semiárido – CERSA
  58. Comitê Distrito Federal – Campanha Nacional pelo Direito à Educação
  59. Comunidade internacional
  60. Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação – CNTE
  61. Conselho Federal de Biblioteconomia
  62. Conselho Nacional de Saúde – CNS
  63. Cooperativa de Costureiras e Artesãos de Parnamirim
  64. Coral Cênico Cidadãos Cantantes
  65. CPD (Convergência Brasil por Direitos)
  66. CRESS
  67. CRIOLA
  68. CUT BRASIL
  69. EQUIP – Escola de Formação Quilombo dos Palmares
  70. Eternamente SOU Idosos LGBTQIA+50
  71. FAOR – Fórum da Amazônia Oriental
  72. Federação Brasileira de Associações de Bibliotecários e Instituições – FEBAB
  73. Fórum de Mulheres de Pernambuco
  74. Fórum ONG AIDS do RS
  75. Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito
  76. Frente Favela Brasil
  77. Fundação Grupo Esquel Brasil
  78. FURG
  79. Gambá
  80. GEEMA
  81. Geledes Instituto da Mulher Negra
  82. Gestos – Soropositividade, Comunicação e Gênero
  83. GIV – Grupo de Incentivo à Vida
  84. Grupo Curumim
  85. Grupo de Agentes Multiplicadores do Combate a AIDS e Hepatites Virais – GAMCAHV
  86. Grupo de Apoio à Prevenção à Aids da Bahia
  87. Grupo de Apoio Solidariedade – GAS
  88. Grupo de Mulheres Felipa de Sousa
  89. Grupo Família Positiva BH
  90. Grupo Humanus
  91. Grupo Pela Valorização, Integração e Dignidade do Doente de Aids de São Paulo – Grupo Pela Vidda SP 
  92. Grupo Pela Vidda -RJ
  93. GTP+ Grupo de Trabalhos em Prevenção PositHIVo
  94. ICW BRASIL
  95. IECLB
  96. Iepé – Instituto de Pesquisa e Formação Indígena
  97. Instituto Água e Saneamento
  98. Instituto Brasileiro de Analises Sociais e Econômicas- Ibase
  99. Instituto Brasileiro de Lésbicas
  100. Instituto Cidades Sustentáveis
  101. Instituto Coletivxs
  102. Instituto Comunitário Baixada Maranhense
  103. Instituto Cultural Barong
  104. Instituto de Desenvolvimento e Direitos Humanos – IDDH
  105. Instituto Democracia e Sustentabilidade – IDS
  106. Instituto Hori – Educação e Cultura
  107. Instituto Internacional de Educação do Brasil – IEB
  108. Instituto Paulo Freire
  109. Instituto Paulo Freire  -SP
  110. Instituto Physis – Cultura & Ambiente
  111. Instituto Sociedade, População e Natureza – ISPN
  112. Instituto Vida Nova Integração social Educação e Cidadania
  113. Instituto Viva Infância
  114. Instituto Vladimir Herzog
  115. International Rivers
  116. IROHIN Centro de Documentação, Comunicação e Memória Afro Brasileira
  117. Kurytiba Metropole
  118. Mazza Edições
  119. MNCP – ES,
  120. MNCP – Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas
  121. MNCP – SP
  122. MNCP Itabuna
  123. MNU PE
  124. Movimento Brasileiro de Mulheres cegas e com Baixa Visão – MBMC
  125. Movimento de Meninos e Meninas de Rua de Goiás
  126. Movimento Nacional de Direitos Humanos – MNDH Brasil
  127. Mulher ART e Ação
  128. Mupan
  129. Noviembre Negro en Argentina
  130. Núcleo de Advocacy Saúde
  131. Nucleo Gestor da Cadeia do Pequi e outros Frutos do Cerrado
  132. Nzinga Coletivo de Mulheres Negras
  133. Observatório da Mineração
  134. Observatório Tuberculose Brasil/ENSP-Fiocruz
  135. ODS nacional
  136. Outros Olhares
  137. Parceria Brasileira Contra a TB – Stop TB Brasil – Segmento Sociedade Civil
  138. PEQUITINA
  139. Plataforma de Direitos Humanos – Dhesca Brasil
  140. ponteAponte
  141. Projeto ammor
  142. Projeto Saúde e Alegria
  143. REARO
  144. Rede Brasileira de Conselhos – RBdC
  145. Rede de Bibliotecas e Centros de Informação em Artes do Estado do Rio de Janeiro
  146. Rede de Cooperação Amazônica RCA
  147. Rede de Jovens+ Pará
  148. Rede de Mulheres Negras de Pernambuco
  149. Rede Feminista de Saúde, Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos
  150. Rede Goiana de Pesquisa em Tuberculose
  151. Rede Nacional de pessoas Vivendo com HIV e AIDS /Pernambuco
  152. Rede Paulista de Controle Social da Tuberculose
  153. REDE TB
  154. RNP+ Brasil – Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/Aids
  155. RNP+ BA
  156. RNP+ ES
  157. RNP+ PE
  158. RNP+ POA
  159. RNP+ SE
  160. RNP+ SOL
  161. Sindicato dos Trabalhadores Municipais de Piracicaba, São Pedro, Águas de São Pedro e Saltinho – SP
  162. SOS Corpo Instituto Feminista para a Democracia
  163. UBM
  164. UFRJ
  165. Uiala Mukaji Sociedade das Mulheres Negras de Pernambuco
  166. União de Negras e Negros pela Igualdade (UNEGRO)
  167. UNISOL Bahia
  168. USP
  169. Vida Brasil
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