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Em meio à misoginia de Estado, o protesto das mulheres

Em meio à misoginia de Estado, o protesto das mulheres

Gestos se une às organizações feministas do Recife para a Marcha do 8 de março.

Eram por volta das 15h quando as mulheres começaram a se reunir no Parque Treze de Maio, no bairro de Santo Amaro (centro do Recife) para a marcha do Dia Internacional de luta  das Mulheres. Trazendo o lema, “Pela vida de todas as mulheres: abaixo o bolsonarismo – Pelo fim da fome, do racismo, do  feminicídio e do transfeminicídio!”, elas protestaram contra o machismo, o fundamentalismo e a violência de gênero. Às 17h, cerca de 5 mil mulheres saíram em caminhada até o Pátio do Carmo, onde a manifestação se encerrou por volta das 19h. Durante a marcha houveram intervenções artísticas e, ao final, foram lidos os nomes das vítimas de feminicídio e transfeminicídio.

“Estamos aqui nos colocando pela vida de todas as mulheres, contra a transfobia, contra a fome, a violência, o feminicídio, o transfeminicídio, o fundamentalismo e pela vida de todas as mulheres”, explica Jô Meneses, Coordenadora de Projetos da Gestos. “Todas essas bandeiras têm sido desprezadas pelo Governo Federal e, por isso, a gente tá aqui hoje, com toda a garra de todas as organizações feministas dessa cidade, pra dizer: “Bolsonaro não! Bolsonaro nunca mais!”.

De fato, o Governo Federal tem dado indícios de seu descaso em relação ao tema. Somente este ano, houve um corte de R$ 89 milhões de reais no orçamento destinado às políticas de combate à violência de gênero do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos – de acordo com levantamento feito pelo Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc). Esse corte corresponde a 68% em relação a 2020, quando a verba da pasta foi de R$ 132,5 milhões. O orçamento para 2022 ( R$ 42,3 milhões de reais) é o menor dos últimos quatro anos.

Além disso, em 2021 o ministério executou apenas metade do que autorizava a Lei Orçamentária Anual (LOA) e utilizou a outra metade para pagar contratos firmados em anos anteriores. Já em 2020, o governo deixou de utilizar 70% do recurso voltado ao enfrentamento da violência contra as mulheres. Cerca de R$ 93,6 milhões não chegaram às redes de atendimento às mulheres dos estados e municípios.

“Quando tem cortes, os governos misóginos cortam onde?”, questiona a enfermeira da Gestos, Nise Santos. “Quando a gente tem um retrocesso dessa política geral, com certeza a prevenção e o tratamento às infecções sexualmente transmissíveis e HIV/AIDS vão sofrer”, comenta a profissional, destacando ainda que “o HIV/AIDS é uma infecção que no Brasil, infelizmente, ainda traz muito estigma e preconceito às pessoas que vivem com ela; então ser mulher vivendo com HIV/AIDS no Brasil hoje é um desafio”.

Como revela Ivanize de Vasconcelos, representante estadual do Movimento Nacional das Cidadãs Positivas, “a nossa luta contra o estigma e o preconceito é diária. Muitas de nós não querem mostrar seu rosto. A gente sabe que o HIV/AIDS não tem cura, mas tem tratamento; porém o preconceito mata mais que a Aids”. Nise ainda complementa a fala da attivista, destacando que “uma parte importante dessas mulheres vivem em situação de vulnerabilidade e a pandemia” e que “a crise econômica impactou muito elas; afetar a vida delas, afeta também a forma como elas se dirigem ao serviço de saúde”.

Para Ivanize, é muito importante que o HIV/AIDS esteja inserido nas pautas feministas. “Nós estamos aqui para reivindicar nossos direitos, pois não existem políticas públicas de qualidade para as mulheres vivendo com HIV/AIDS – que vivem na invisibilidade diante do poder público e da sociedade”, diz.

Contudo, “toda a luta feminina é uma luta contra as opressões e qualquer forma de discriminação e preconceito a qualquer condição que esteja vinculada às mulheres”, como lembra a enfermeira. “O dia 8 de março é um dia muito importante para a luta de todas as mulheres. E quando eu falo ‘todas as mulheres’, é porque esse grupo é muito diverso. Nós somos mulheres pretas, indígenas, lésbicas, bissexuais e também somos mulheres vivendo com HIV/AIDS.”

Temas deste texto: 8M - Dia Internacional da Mulher - Feminismo