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Nota de repúdio: Gestos alerta sobre gravidade da ação policial do dia 29 de maio no Recife

Violência policial 29 de maio
Foto: Társio Alves/Cortesia

Enquanto várias cidades brasileiras puderam se manifestar com liberdade contra o governo de Jair Bolsonaro nos atos de 29 de maio, o Recife se destacou pela injustificável violência da Polícia Militar de Pernambuco (PM-PE) contra os/as manifestantes que caminhavam em direção ao centro da cidade. Entre as pessoas agredidas estavam colaboradoras da Gestos, que também registraram a truculência gratuita. Como testemunha do que aconteceu, a Gestos vem a público repudiar a decisão policial e alertar que a violência adotada pela Polícia Militar pode não ter sido causada apenas por falta de preparo e estratégia, mas sim resultado do alinhamento ideológico da corporação ao bolsonarismo e da perda de controle do governo estadual. 

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De imediato, a Gestos espera que o Governo de Pernambuco cumpra as promessas de oferecer o tratamento especializado e indenizar Daniel Campelo da Silva e Jonas Correia de França, ambos vítimas de balas de borracha disparadas pela PM e que perderam a visão de um dos olhos. Até o início da noite desta segunda-feira (31), as famílias afirmaram à imprensa que nenhuma das duas promessas foi cumprida e que os homens permanecem sem o acompanhamento adequado.

Além dessas duas vítimas mais graves, há inúmeros relatos e registros de violência por parte da Polícia Militar, que não hesitou em atirar nos manifestantes, inclusive mirando em seus rostos, como é possível constatar em diversas imagens. Duas profissionais da Gestos que estavam deixando a manifestação também foram vítimas de policiais que encurralaram e atiraram contra o grupo que já estava em dispersão nas proximidades do Parque Treze de Maio. Uma das colaboradoras, que é profissional de saúde, chegou a socorrer uma senhora que estava em uma parada de ônibus e conseguiu que a viatura da PM a levasse ao hospital após reiterados pedidos.

Mesmo com o histórico de truculência contra manifestantes no Recife, a reação desproporcional da Polícia Militar surpreendeu as instituições que participaram da organização do ato, inclusive a Gestos.

Isso porque o planejamento da manifestação de 29 de maio contou, inclusive, com uma comissão de segurança sanitária que pensou nas estratégias para tornar a passeata o mais segura possível – já que, até então, o maior risco era a covid-19. Essa organização se refletiu no uso e distribuição de máscaras entre os manifestantes, distribuição de álcool gel e pelo alinhamento em filas indianas que mantinha o distanciamento recomendado entre os participantes. Foi um dos atos mais bem planejados do Brasil, o que pode ser verificado nas imagens feitas antes da ação policial.

Todo esse trabalho foi desfeito quando a tropa de choque da PM-PE começou a atirar nos manifestantes, que ainda estavam no trajeto combinado. Sem qualquer preocupação com a segurança sanitária, essa decisão provocou uma inevitável aglomeração das pessoas que tentavam se proteger. Numa demonstração de que a intenção não era dispersar a multidão – mas sim dar uma resposta sobre o tema do protesto -, a Polícia Militar avançou em diferentes direções, não permitindo a dispersão e causando ainda mais pânico.

Ao levar em conta a velocidade com que as histórias circulavam nas redes sociais e repercutiram pelo País, o Governo de Pernambuco demorou a se posicionar e, quando o fez, informou apenas o afastamento e a investigação dos envolvidos. Resposta lenta e fraca diante da seriedade dos fatos. Com 28 anos de fundação e participação em diversas manifestações reprimidas com violência, a Gestos não tem expectativas sobre a atuação da corregedoria da polícia em Pernambuco.

Outro ponto gravíssimo das declarações dadas pelo governador Paulo Câmara é de que a ordem para a repressão da manifestação não partiu dele. Ao afirmar isso, o chefe do executivo de Pernambuco diz que não tem controle sobre a própria polícia e dá margens para a suspeita de que existe um comando paralelo e uma disputa política dentro da estrutura do governo estadual. 

Considerando que o alvo dos policiais eram manifestantes que pediam o impeachment do presidente Jair Bolsonaro (a quem Paulo Câmara se coloca publicamente como oposição), também é preciso lembrar do alinhamento da PM de outros estados com o bolsonarismo, como foi verificado durante a paralisação dos policiais do Ceará em março do ano passado.

Nós da Gestos e todos os movimentos envolvidos no ato de 29 de maio não vamos esquecer o que aconteceu. Mas também não vamos deixar de olhar para frente e planejar novas manifestações – agora alertas sobre o que nos aguarda. Seguimos confiantes de que o povo sempre será mais forte que a ideologia de morte e violência do governo fascista de Jair Bolsonaro.

Temas deste texto: Bolsonaro - Polícia - Protesto - Recife - Violência

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