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#AIDS2018: ativistas brasileiros protestam por políticas de combate à Aids

#AIDS2018: ativistas brasileiros protestam por políticas de combate à Aids

Aos gritos de “vergonha” e usando nariz de palhaço, ativistas brasileiros chamaram a atenção para a situação da aids no Brasil. O protesto aconteceu na manhã desta quarta-feira (25), na 22ª Conferência Internacional de Aids (#AIDS2018), em Amsterdã. Segundo os militantes, a sustentabilidade da política brasileira de aids está sob ameaça frequente.

Carregando cartazes e faixas, o grupo caminhou pelo salão dos expositores em direção ao espaço onde a delegação do Ministério da Saúde se instalou. As faixas diziam: “30% das pessoas trans do Brasil vivem com HIV/aids. Precisamos de uma melhor política de saúde”; “Nos últimos dois anos muitos medicamentos ficaram fora de estoque”; “O Sistema de Saúde Brasileiro está sendo desmontado”; “A sociedade civil precisa de suporte. São 15 mil mortes ao ano em decorrência da aids. Vocês estão ok com isso?”.

Em pé, em frente ao estande brasileiro, dra. Adele Benzaken, diretora do Departamento de IST, Aids e Hepatites Virais, do Ministério da Saúde, recebeu os manifestantes e ouviu atentamente suas reivindicações.

Representando o movimento de aids brasileiro, o professor Jorge Beloqui, do GIV (Grupo de Incentivo à Vida), cobrou mais empenho do governo nesta luta. Ele pediu a garantia do acesso universal aos medicamentos de cura das hepatites virais.

Manifesto

Os manifestantes distribuíram ao longo da passeata uma declaração pública da Anaids (Articulação Nacional de Aids) apontando falhas na atual conjuntura da política de saúde do Brasil. “A situação é emblemática. Estamos enfrentando grande desinteresse, desinvestimento e desmantelamento do SUS, e, de fato, o processo é reforçado pela atual lei aprovada pelo Congresso Nacional (Emenda Constitucional 95), que congela fundos para saúde e educação nos próximos 20 anos. Os fatos revelam quão grave é a crise na resposta brasileira, antes considerada um exemplo da luta contra o HIV para o mundo”, diz o documento.

“Ao mesmo tempo, em muitos países, inclusive no Brasil, observa-se a intensificação da epidemia, agravada pelo avanço das agendas conservadoras e fundamentalistas, que aprofundam a vulnerabilidade e os estigmas sociais. Consequentemente, a população historicamente marginalizada (LGBTI, mulheres, jovens, comunidades indígenas, migrantes, usuários de drogas, profissionais do sexo, moradores de rua, população carcerária, entre outros) tem seu direito infringido e são vítimas de violação diária”, destaca outro trecho do documento.

Em resposta às reivindicações, Dra. Adele explicou que o governo é parceiro da sociedade civil. “Nós esperamos que a sociedade civil possa nos ajudar a lutar para ter produtos genéricos mais baratos e que nos deem sustentabilidade ao Plano de Eliminação da Hepatite C. Como vocês sabem o apoio da sociedade civil é determinante para conseguirmos que o Sofosbovir genérico, para tratamento da hepatite c, se torne uma realidade e esteja disponível para todos. Recentemente avançamos nas negociações com a indústria farmacêutica e conseguimos economizar 1 bilhão de reais para compra de 50 mil tratamentos. Gostaria apenas de pontuar que nunca houve falta de medicamentos, o que houve foram alguns problemas no processo de importação e produção de alguns medicamentos que acarretaram atrasos na entrega ao Ministério da Saúde, mas que já foram contornados”, disse a gestora, colocando a mão no ombro do ativista Jorge Beloqui, em sinal de apreço e respeito.

Cooperação Internacional

Na sequência, a ativista Alessandra Nilo, da Gestos de Pernambuco, aproximou-se e fez questão de ressaltar que “nos últimos anos nós vimos a cooperação internacional sair do Brasil. Seria importante eles voltarem com apoio porque as ONG precisam ser fortes o suficiente para seguir dando suporte e fazendo o trabalho de advocacy. É uma oportunidade de mostrarmos a nossa preocupação com a saída da cooperação internacional. É importante que o governo brasileiro também considere a volta do apoio para que possamos avançar com as agendas pela igualdade de gênero e direitos humanos. O poder público vem tomando decisões erradas em relação as essas agendas.”

A gestora reiterou: “O Ministério da Saúde tem sido apoiador da sociedade civil, financiamos projetos e também algumas pesquisas pertinentes à sociedade civil. Este chamado continua ativo, com diversos editais de financiamento. Para termos uma sociedade civil ainda mais forte. Então, obrigada a todos, vocês são bem-vindos. Eu espero continuar trabalhando junto.”

Depois de ouvi-los, a médica se retirou e o grupo seguiu com a manifestação deitando no chão, em frente ao estande brasileiro, e segurando os cartazes para serem lidos.

Durante o protesto, o governo exibiu no estande oficial mensagens informando que “A História do SUS foi, é e será feita pelo diálogo” e “O Ministério da Saúde apoia toda forma de protesto”.

A manifestação durou cerca de 30 minutos e delegações de diferentes partes do mundo pararam para observar a insatisfação dos brasileiros. Por fim, eles caminharam até o Global Village onde encerraram o protesto.

* A reportagem foi publicada na Agência de Notícias da Aids, em 25/07/2018

Temas deste texto: AIDS - Anaids - Direitos Humanos - HIV - Prevenção - SIDA

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