Incidência da sociedade civil no G20: próximos passos até a cúpula mundial
Opinião na Folha de Pernambuco
Por Alessandra Nilo
Nos dias 1º e 2 de julho, organizações da sociedade civil global, representantes dos governos do G20 e diversas autoridades se encontraram no Rio de Janeiro para o Midterm Meeting, encontro promovido pelo Civil Society 20, o C20, Grupo de Engajamento formalizado em 2013 durante o G20 sob a presidência da Rússia. Criado para monitorar e influenciar o G20 – o grupo de países das maiores economias do planeta, responsável pelos maiores problemas que enfrentamos e também capaz de resolvê-los –, o C20 deste ano no Brasil é composto por mais de 2 mil organizações de mais de 90 países. Elas trabalharam intensamente, no primeiro semestre, para formular recomendações de políticas públicas eficazes, inclusivas e com base em evidências, que foram entregues aos governos do G20 em 4 de julho, em sessão fechada, presidida pelo Brasil, no Rio.
Desde a sua criação, o C20 tem se fortalecido, oferecendo aos líderes globais recomendações efetivas para os maiores problemas que o mundo enfrenta, mostrando caminhos para combater as múltiplas crises que nos assolam e, um dia, quem sabe, viver em um mundo mais justo e sustentável. A Gestos acompanha o G20 desde 2011 e, este ano, foi convocada pela sociedade civil a assumir o papel de Sherpa, função responsável pela articulação política entre a sociedade civil e os governos.
No processo brasileiro, o C20 se dividiu em 10 grupos de trabalho temáticos sobre os temas prioritários da presidência brasileira. Enquanto os GTs constroem suas recomendações, o trabalho de Sherpa é abrir espaço para que os grupos sejam inseridos e participem dos diálogos oficiais do G20, além de articular com outros grupos de engajamento – este ano, são 13. Esse esforço inclui, por exemplo, reuniões com ministros e ministras, e em 2024 tivemos grandes resultados. Em uma ação inédita na história do G20, o C20 foi aceito para participar de reuniões oficiais de Educação e Saúde e acompanhou toda a trilha financeira, um legado importante, que abre precedentes para as futuras presidências do G20 (África do Sul em 2025 e EUA em 2026).
Esse impulso é particularmente importante para a América Latina, a região mais desigual do mundo, que enfrenta o agravamento de instituições enfraquecidas e o menor crescimento econômico global. Segundo a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), em 2024, a economia latino-americana deverá crescer só 1,9%, uma queda de 0,3 pontos percentuais em relação a 2023. Depois de entregues as principais recomendações do C20, este segundo semestre será dedicado à incidência política para que elas sejam incorporadas à Declaração de Líderes do G20, que será apresentada ao mundo em novembro, numa grande conferência no Rio de Janeiro.
O trabalho da sociedade civil envolve muito plantio de sementes aqui e acolá para colher resultados futuros. Este é o momento de abrir os olhos para soluções práticas de temas que ameaçam nossa existência e a do planeta, como combate à fome, transição energética justa, igualdade de gênero, economias inclusivas e iniciativas antirracistas. Enquanto o G20 continua a falhar em resolver problemas sistêmicos e fomentar economias insustentáveis, extrativas e excludentes que nos levaram às desigualdades existentes e às emergências climáticas, o C20 mostra que é possível, sim, avançar sem deixar ninguém para trás.