Inception Meeting do Civil 20 Brasil reúne sociedade civil global em Recife
Aconteceu, na última terça-feira (26), o Inception Meeting do Civil 20 (C20) Brasil. Reunindo a sociedade civil organizada de ao menos 60 países e 2.100 entidades, o encontro transformou o Recife no epicentro das discussões sobre estratégias de incidência política junto ao grupo das 20 maiores economias globais, o G20. Realizado pela Gestos, em parceria da Prefeitura do Recife, o evento busca influenciar políticas públicas globais, com especial atenção para a democratização da economia e combate às desigualdades estruturais. O encontro segue até o dia 28 de março, no Hotel Transamerica Prestige (em Boa Viagem, na Zona Sul do Recife).
O C20 é o grupo de engajamento oficial da sociedade civil no G20 e desempenha um papel crucial desde sua oficialização em 2013, apresentando orientações aos/às chefes de Estado para responder às crises econômicas, sociais e climáticas, visando também a promoção do desenvolvimento sustentável e a garantia dos direitos humanos. Em resumo, o C20 busca garantir que as vozes da sociedade civil sejam ouvidas pelos líderes mundiais.
Este ano, sob a coordenação da Gestos e presidido pela a Associação Brasileira de ONGs (Abong), o C20 Brasil enfrenta desafios complexos. A cidade de Recife, com sua vulnerabilidade às mudanças climáticas, foi escolhida como o local ideal para sediar o encontro inaugural e estabelecer as estratégias do grupo de engajamento, visando apresentar formalmente suas recomendações aos governos do G20, em julho de 2024, com foco na construção de um novo arcabouço econômico global, justo, equitativo e antirracista.
Em seu primeiro dia, o evento foi transmitido ao vivo, através dos canais da Gestos e da Prefeitura do Recife no Youtube. A programação foi disposta em dois turnos (manhã e tarde) com mesas redondas formados por representantes de organizações da sociedade civil e integrantes dos grupos de trabalho do C20.
A mesa de abertura foi composta pelo presidente do C20, Henrique Frota; pela Sherpa do C20, Alessandra Nilo e pela vice-governadora Priscila Krause, além de representantes de outros grupos de engajamento e dos ministérios do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas, das Mulheres e da Secretaria-Geral da Presidência da República.
“O G20 chega ao Brasil em um momento muito particular da história da sociedade como um todo, pois ele chega no momento de múltiplas crises [econômica, social e climática]; mas o G20 já foi criado para resolver crises financeiras que nunca conseguiu resolver (muitas vezes criadas pelos próprios países membros do G20)”, comentou a sherpa do C20, Alessandra Nilo. “O Brasil colocou como uma das prioridades a mudança na arquitetura financeira global, o que implica na revisão das relações de poder de quem decide quem tem os votos de como são feitas as decisões em organizações como o Banco Mundial e o FMI, por exemplo; esse é um tema que já vem sendo discutido há mais de 20 anos; não nos faltam recursos para justificar o nível de desigualdade e concentração [de renda] que existe no planeta, a questão pra gente é o que nós podemos fazer diferente para mudar essa realidade que nos aflige”.
“Sempre acreditei que nós estávamos em um caminho muito perigoso de mudança climática no Brasil; o ponto mais difícil é que esse fenômeno, infelizmente, traz muitos desafios para ambientes de desigualdades latentes como o Brasil e como a cidade do Recife, porque o desastre natural é endereçado. As vítimas são quem mora na periferia, são pessoas pretas e pardas. É uma perversidade imposta pela condição da desigualdade”, avaliou o prefeito do Recife, João Campos (PSB), que participou da Recife, Capital do C20 – Do local ao Internacional, a Sociedade Civil responde à Tripla Crise Planetária.
Em sua fala, o economista da Gestos e do GT Agenda 2030, Claudio Fernandes, chama atenção para um aspecto das múltiplas crises citadas por Alessandra, “Há um elemento da crise que vivemos que foi esquecido, e esse elemento é a volta do crescimento do fascismo, que renasce e ganha poder e lugar [no debate público]”. Claudio cita a manipulação da informação como um aspecto central do fascismo no mundo contemporâneo e afirma “se não falarmos sobre o neofascismo, não há possibilidade de pensarmos uma economia que seja realmente antirascista”.
Ao longo de toda a programação do primeiro dia, os debates giraram em torno de temas como a integração entre questões globais e realidades locais, a importância da participação da sociedade civil na tomada de decisões e a necessidade de propor soluções concretas para múltiplos e complexos desafios globais.