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Sim! Podemos acabar com a tuberculose: comprometer-se, investir e entregar

Sim! Podemos acabar com a tuberculose: comprometer-se, investir e entregar

Por Marcia Leão, Liandro Lindner e Jô Meneses*
23 de Março: Dia Mundial de Enfrentamento à Tuberculose

Mais um ano que dedicamos à reflexão, à ação, aos protestos e à busca por comprometimento para erradicação da tuberculose como problema de saúde. Desta vez, a chamada mundial, feita pelo Stop TB Partnership, cobra compromissos dos governos mundiais na busca de responsabilização e investimentos para o enfrentamento da TB. Tal iniciativa tem como pano de fundo a redução drástica dos investimentos americanos na saúde global, após a posse do presidente Donald Trump, suas consequências para a ampliação da desigualdade mundial e a urgência dos governos de assumirem suas responsabilidades.

Aqui no Brasil, a consequência da destruição da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid) veio como mais um entrave no ideal da eliminação da tuberculose e de outras doenças socialmente determinadas. Os dados epidemiológicos apontam a triste realidade de quase dez casos novos por hora e mais de 16 mortes por dia. 

Sendo uma doença prevenível e tratável, esses dados apontam para a necessidade urgente de integração de outras áreas além da saúde na busca de respostas mais amplas envolvendo questões sociais e que atuem na diminuição das diferenças sociais, principalmente as que atingem grupos mais vulnerabilizados como pretos, pobres, periféricos e populações-chave como pessoas vivendo com HIV, população privada de liberdade e egressos do sistema prisional, população indígena, pessoas em situação de rua e outros.

O Brasil é o único país das maiores economias do mundo que tem maioria de pessoas negras em sua população, no entanto, dados oficiais mostram que mulheres e homens pretos e pardos estão em grave desvantagem de salários e condições de vida, quando comparados a pessoas de raça branca e amarela. Não é surpresa perceber que os casos de tuberculose se concentram nesse perfil de raça, na maioria pessoas empobrecidas e com baixo acesso ao sistema de educação. 

Esses índices evidenciam a urgência de que as ações de enfrentamento da TB contemplem também o combate ao racismo e ao classismo, promovendo acessos ao mundo do trabalho e do ensino e encarem a superação de uma enfermidade como um esforço integrado, além dos aspectos da saúde, mas atingindo outras áreas que promovam a garantia de acessos, a qualidade de vida e a ampliação da igualdade social.

Nesse sentido, o Programa Brasil Saudável surge como uma esperança de união das respostas governamentais a esses enfrentamentos. Para tal, a participação da sociedade civil é fundamental levando as realidades, distantes dos centros de poder, indicando prioridades e colaborando com a formulação de estratégias e ações. 

Há muito caminho a trilhar e as ideias somente terão materialidade quando houver vontade política concreta e abertura para a opinião das organizações, dos movimentos e das comunidades afetadas.

Nesta data, a chamada é pela ampliação da mobilização e pelo empenho dos governos para que assumam os compromissos e enfrentem a questão de forma ampla. Somente assim teremos um Brasil livre da tuberculose e pleno de igualdade e justiça.

* Márcia Leão é advogada, ativista do Movimento AIDS e Tuberculose e coordenadora executiva do Fórum ONG AIDS RS.
Este artigo foi escrito em parceria com a ativista Jô Meneses e o jornalista Liandro Lindner.
Jô é coordenadora de Programas Institucionais da Gestos.
Liandro é doutor em Saúde Pública, membro da CNAIDS e da coordenação do GT de Comunicação da Abrasco.
Os três formam a Coordenação Executiva da Parceria Brasileira contra a Tuberculose – Stop TB/ Brasil