Enchentes no Rio Grande do Sul: um olhar sobre as mulheres e mudanças climáticas
A Gestos expressa profunda solidariedade e preocupação diante da atual situação enfrentada pelo estado do Rio Grande do Sul. Sabemos que os desastres climáticos afetam de maneira desproporcional as populações em situação de vulnerabilidade social e essas circunstâncias exigem, mais do que nunca, um olhar atento e gestos firmes para garantir direitos. A partir das lições aprendidas, é urgente avançar para a implementação de políticas públicas eficazes que protejam as pessoas em situações de crises humanitárias tão intensas como a que vive hoje o Sul do país.
Assim, foi com grande indignação e preocupação que tomamos conhecimento dos casos de estupros de mulheres desabrigadas pela catástrofe em centros de acolhimento, inclusive todas menores de 18 anos. Como tem sido comprovado e documentado em situações similares, o ocorrido acende o alerta de que as denúncias oficiais representam apenas uma pequena fração dos casos de assédio ocorridos.
A violência sexual relacionada a eventos climáticos vem sendo documentada há bastante tempo e sua prevenção exige imediata atenção das autoridades locais. É de conhecimento amplo e vem sendo debatido em vários espaços internacionais dados que mostram que respostas humanitárias exigem uma abordagem de gênero, o que exige o estabelecimento de medidas protetivas.
Os dados da ONU já mostram que as mulheres têm 14 vezes mais chances de morrer em catástrofes climáticas do que os homens. Não faltam evidências, mas faltou, mais uma vez, ao poder público, atenção com a situação das mulheres. Isso é inaceitável e esta situação de vulnerabilidade extrema das mulheres e meninas frente às mudanças climáticas vem sendo alertada por organizações da sociedade civil, Gestos incluída, e por diferentes agências da ONU em fóruns multilaterais.
Em tempos de tragédia, a solidariedade se manifesta, mas também se abrem brechas para múltiplas violações. Relatos de parceiros e parceiras residentes no estado indicam ainda o descaso com a proteção dos direitos sexuais e reprodutivos das pessoas, além de episódios de transfobia, quebra de sigilo sobre a condição de viver com HIV e a adoção de estratégias segregadoras e estigmatizantes durante a crise, como a separação forçada de pessoas afetadas pela tuberculose em locais específicos.
A preocupação precisa ir além da reconstrução estrutural e material do estado. É urgente alocar recursos para desenvolver um plano de contingência capaz de mitigar os impactos da crise nas populações – impactos que ainda não são possíveis de mensurar.
A Gestos segue à disposição para contribuir no que for possível para fortalecer essa rede potente de apoio e solidariedade. Você também pode contribuir consultando a lista de associações sérias que têm feito a diferença na vida de centenas de pessoas.
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