Gestos e AdoleScER retomam o Plantão da Prevenção
Na tarde de segunda-feira (29), teve início, na comunidade Caranguejo Tabaiares, o Plantão da Prevenção, que estará realizando testagens gratuitas e itinerantes nas comunidades da cidade do Recife até o dia 6 de dezembro. A ação é desenvolvida conjuntamente desde 2014 e é fruto de uma parceria histórica entre a Gestos e o Grupo AdoleScER. Devido à crise sanitária e às medidas restritivas necessárias para prevenir o Covid-19, a iniciativa acabou sendo interrompida em 2020, retornando em 2021 – quando a epidemia da AIDS completa 40 anos.
Durante todo o dia, um grupo de jovens e educadores sociais da ONG AdoleScER dialogaram com a população da comunidade Caranguejo Tabaiares (na Ilha do Retiro), convidando as pessoas para a testagem que acontecia na Rua Campos Tabaiares, nº 88; aproveitando a ocasião para conversar sobre prevenção ao vírus HIV e outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs). A ação teve início às 14h e durou até o fim da tarde. No local, estavam disponíveis cartilhas informativas e preservativos (masculinos e femininos) distribuídos gratuitamente.
Para Igor Luan, educador social da ONG AdoleScER, esta é “uma oportunidade muito boa para todo mundo, tanto para a gente (que acaba gerando mais impacto e visibilidade junto à comunidade), quanto também para as pessoas que aqui são atendidas”. Ele relata que, muitas vezes, a população não têm acesso a esse tipo de exame, ou não possui conhecimento sobre HIV/AIDS, ISTs de maneira geral, ou mesmo sobre a importância do uso da camisinha. “Quando [as pessoas] vêm pra cá, automaticamente acabam ganhando mais conhecimento a partir do que os jovens repassam e os materiais que são disponibilizados (por nós e pela Gestos)”, comenta.
Os atendimentos foram realizados pela enfermeira da Gestos, Nise Santos, que avalia este trabalho como essencial, sobretudo neste momento de pandemia. “Tive vários relatos de pessoas que estavam com testagem atrasada”, diz a profissional de Saúde. “Algumas, quando questionadas, afirmaram que não tinham acesso aos testes no posto de Saúde; outras diziam que, de fato, a questão de se investigar [a presença] de ISTs se tornou algo secundário diante da pandemia e do medo de se buscar os serviços de saúde”.
Ela destaca a necessidade de aproximar os serviços de atenção básica das comunidades, sobretudo dos grupos mais vulneráveis – em especial homens gays/HSH, população trans, jovens que estejam iniciando suas vidas sexuais e/ou mulheres com vida sexual ativa mas que vivenciam relacionamentos violentos/abusivos em que não conseguem impôr o uso do preservativo. A ausência desse tipo de testagem nos serviços de atenção básica dificulta a erradicação da AIDS, pois impede que a comunidade receba informações que lhes permitam acessar livremente seu direito à saúde.
“Veja, quando você tem um posto de saúde, a comunidade entende que ali é o espaço para verificar questões relacionadas à saúde [da população] e quando dentro do posto de Saúde se tem um serviço de planejamento reprodutivo, minimamente você terá alguma informação, algum tipo de diagnóstico e tratamento”, explica a enfermeira, evidenciando que a ausência desses serviços comunitários põe em risco não apenas a identificação precoce do vírus HIV, como também cuidados pré-natais e a possibilidade de pensar trajetórias sexuais e reprodutivas com mulheres e homens – o que envolve o debate de prevenção às ISTs e à gravidez não planejada.
“O posto básico, a equipe de saúde da família, a atenção básica na comunidade, para a gente [profissionais da Saúde] é comunicação, é presença e territorialidade para falar em saúde. Hoje, o terceiro setor e as ONGs são importantíssimos na Saúde, porque a gente vai na demanda que não chega na atenção primária. Isso é importante de se dizer! Diferente do posto de saúde, na Gestos (por exemplo), a gente faz busca ativa, divulgação de informação, levamos projetos e formações de qualidade para os grupos mais vulneráveis às infecções; então aquela demanda represada que, por diversos motivos, não chega ao posto de saúde, uma parte dela nós acolhemos, e acabamos chegando a essas pessoas através de ações como essa”, .
Contudo, ela alerta que os serviços oferecidos pelas OSCs deve ser complementar, não podendo substituir a atenção básica. “A atenção primária no país está estruturada no Sistema Único de Saúde, que está organizado pelos princípios de territorialidade, etário e populacional. É uma organização sistêmica muito maior do que a sociedade civil pode bancar. Além disso, esse sistema deve ser financiado pelo Estado, de forma gratuita, com administração direta e indireta. As organizações sociais não podem substituir o Estado. Penso que as organizações da sociedade civil cumprem um papel complementar e de fiscalização das políticas de Estado. São essas duas coisas que dão sentido e justificam a presença do 3º setor na saúde, na minha opinião”.
Na avaliação de Igor Luan, que há 12 anos desenvolve trabalhos de formação cidadã com jovens de periferia, “as pessoas entram aqui e saem mais conscientes (independente do resultado do teste). Elas acabam saindo com um olhar diferente do que tinham quando entraram. Pode parecer simples, um momento de receber um material e conversar um pouco, mas eu acho que isso abre a mente de muita gente quanto à prevenção”.
O Plantão continua no dia 1º de Dezembro (Dia Mundial de Combate à AIDS), desta vez na comunidade Santa Luzia (Torre). Confira abaixo a programação completa para os próximos dias e locais de realização.
Conheça a Agenda:
1 de dezembro
Comunidade: Santa Luzia
Endereço: Rua Barra do Riachão, nº 14
Horáiro: 14h às 16h30
3 de dezembro
Comunidade: Santo Amaro
Endereço: Rua Mário Albuquerque Cavalcante, S/N
Horário: 14h às 16h30
6 de dezembro
Comunidade: Roda de fogo
Endereço: Rua Búzios, nº 30
Horário: 14h às 16h30