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Sociedade Civil entrega 40 recomendações em comunicação sobre HIV e Covid-19 ao MS

Sociedade Civil entrega 40 recomendações em comunicação sobre HIV e Covid-19 ao MS

O documento foi construído coletivamente a partir do acúmulo de experiências do Movimento Aids e do Estado brasileiro na produção de campanhas informativas e de prevenção ao HIV nas últimas décadas

 

Proposto por ativistas profissionais de comunicação de todo o país durante o segundo II Comunicaids, a lista de recomendações foi entregue durante uma Live transmitida pela Gestos – Soropositividade, Comunicação e Gênero e marcou o lançamento da terceira campanha institucional produzida pela ONG pernambucana este ano. O documento aponta a necessidade de uma comunicação baseada em evidências, que estimule afetos (de solidariedade e esperança) e promova direitos.

As recomendações partem de três perspectivas centrais: 1 – a Aids não é uma doença superada no Brasil – o que implica desafios agravados pela Covid-19 (com a maior dificuldade de acesso aos serviços de saúde); 2 – não se pode negligenciar políticas públicas em comunicação diante de um contexto de desinformação generalizada (disseminada inclusive por órgãos públicos e autoridades nacionais); e 3 – que os meios de comunicação (principalmente os digitais) são espaços de disputas de opinião e narrativas, tornando a participação social fator primordial para a construção de estratégias coletivas de enfrentamento aos dois vírus.

“Recomendamos ao Ministério da Saúde que valorize o acúmulo das organizações da sociedade civil (OSC) na comunicação em saúde, evitando a concepção de grupos de risco e fomentando as participações das comunidades e dos públicos na construção dessas estratégias comunicacionais”, disse Alessandra Nilo, coordenadora geral da Gestos e co-facilitadora do GT Agenda 2030 no Brasil. “Pedimos que o MS volte a reorientar sua comunicação a partir dos direitos humanos e dos princípios do SUS, para que isso aconteça, precisamos voltar a trazer temas que sejam essenciais para a resposta ao HIV e à Covid-19 – como questões ligadas ao racismo estrutural, equidade de gênero e o respeito às diversidades e direitos como um todo”.

Algumas das recomendações giram em torno do financiamento de ações locais promovidas pelas OSC e media training de ativistas como forma de intervenção social em saúde; bem como a utilização de linguagens inclusivas e o protagonismo das pessoas vivendo com HIV/AIDS (PVHA), além da implementação de estratégias de informação sobre HIV e Covid em espaços públicos e comunitários de saúde. “Uma dessas estratégias consiste em aproveitar esse momento em que o SUS tem uma valorização momentânea (em função da vacinação de forma ampla) para incluir as pautas de AIDS como uma resposta de sucesso pretérito e desafios presentes”, destacou o jornalista, professor e ativista, Liandro Lindner. 

Durante a entrega do documento, o diretor do departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis do Ministério da Saúde (DCCI), Dr. Gerson Pereira, se disse ansioso para tê-los em mãos, pontuando: “o aporte que essa reunião nos dará é importante para que a gente possa, de fato, escolher a melhor forma de comunicar sobre os agravos do HIV/AIDS para as populações que temos como prioritárias”.

Frente à atual conjuntura política nacional, Moysés Toniolo, membro do Conselho Nacional de Saúde, integrante da Articulação Nacional de Luta contra a Aids (ANAIDS) e da Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/AIDS (RNP) avaliou que “as pautas mais importantes para nós, do movimento social de luta contra a Aids (como a garantia dos direitos humanos e, principalmente, sexuais e reprodutivos das pessoas em vulnerabilidade), precisam estar sendo tratados sem ideologias que tentam reverter as questões de gênero e sexualidade. Precisamos falar de prevenção numa perspectiva ampliada e não mais minimalista; precisamos falar de promoção de saúde!” 

“Neste sentido, a comunicação que se move de forma estratégica e colaborativa é fundamental para superar as barreiras sociais e realmente ajudar nas transformações que necessitamos na sociedade”, disse Claudia Velasquez, diretora e representante do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS) no Brasil, que também pretende interiorizar as estratégias apresentadas ao Ministério da Saúde. Agora, o próximo passo é a incorporação dessa agenda pelo Conselho Nacional de Saúde. O Movimento AIDS e as organizações da sociedade civil estão à disposição para colaborar com o MS na implementação dessas recomendações. A lista também será traduzida para o inglês e o espanhol, a fim de internacionalizar as proposições.