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O HIV e as juventudes – o desafio da prevenção sem informação

O HIV e as juventudes – o desafio da prevenção sem informação

Jair Brandão*

A reflexão provocada pelo Dezembro Vermelho, quando todos os anos é lembrado o Dia Mundial de Luta contra a Aids (1º de dezembro), traz para o debate questões sobre o avanço da epidemia do HIV e as medidas necessárias para acabar com a Aids. Esse contexto nos coloca de frente a dados que não podem ser ignorados, a exemplo do aumento da infecção em jovens. O país tem mantido uma média de cerca de 40 mil novos casos de HIV ao ano. Em 2018, segundo o Boletim Epidemiológico apresentado pelo Ministério da Saúde, foram registrados 43,9 mil novos casos de HIV/Aids – totalizando 966.058 mil casos no país entre 1980 e 2019. Destas novas ocorrências, nada menos que 46,9% foram diagnosticadas em jovens na faixa etária entre 15 e 29 anos.

O estigma e a discriminação em relação ao HIV/Aids contribuem para este percentual. Eles ainda excluem, oprimem e fazem sofrer os jovens que vivem e convivem com o HIV/Aids, dificultando o acesso ao Serviço Único de Saúde (SUS), às medidas de prevenção combinada e prejudicam a adesão ao tratamento.

É grave pensar que a falta de acesso a informações de qualidade, no Serviço de Saúde Pública e também nas escolas e em ambientes de convivência coletiva, contribuem para o aumento dos casos. Não basta realizar campanhas de prevenção em datas “festivas”, como o Carnaval, ou abordar a prevenção ao HIV e a outras Infecções Sexualmente Transmissíveis apenas durante o mês de dezembro de cada ano, se no restante dos meses os direitos sexuais e os direitos reprodutivos não são temas de aulas nas escolas, não estão nas rodas de conversa nas comunidades, não fazem parte do cotidiano das pessoas.

Essa ocultação do tema, a vergonha e o preconceito de falar sobre sexualidade são somados à redução dos investimentos na saúde básica e em ações de prevenção e de promoção de informações. Não basta dizer para usar camisinha, nem mesmo distribuir milhões de preservativos se as pessoas não sabem usá-los, não têm o hábito fazer o teste de HIV e se sentem constrangidas de abordarem algumas questões no serviço de saúde, por medo de serem julgadas e expostas.

A estratégia de prevenção direcionada para a população jovem precisa ser acolhedora e baseada numa perspectiva de direitos. Além disso, informações sobre prevenção combinada ao HIV, Profilaxia Pré-Exposição (PreP), Profilaxia Pós-Exposição (PEP), Indetectável=Intransmissível (I=I), testagem para HIV e outras ISTs, entre outras, precisam ser assuntos do dia a dia das juventudes.

Pensar nessa estratégia é necessariamente criar meios de ouvir as juventudes e entender o que desejam e como se comunicam. É possibilitar o acesso a serviços especializados e qualificados para atender essa população, estimulando a troca e o compartilhamento de informações. É estar disponível para ouvir sem preconceitos, criando um ambiente propício para conversar sobre temas muitas vezes sensíveis. Sem essa aproximação, esse acolhimento, dificilmente mudaremos os percentuais de infecção do HIV.

* Ativista e assessor de Projetos da Gestos – Soropositividade, Comunicação e Gênero

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