Articulação Aids de PE realiza seminário e debate os rumos da política de HIV/AIDS
A Articulação Aids de Pernambuco realizou entre os dias 10 e 11 de novembro, o seminário “40 anos de luta contra a Aids – Desafios e avanços em Pernambuco”. O evento aconteceu no Hotel Beach Class, no bairro de Boa Viagem (Zona Sul do Recife) e reuniu pessoas vivendo com HIV/AIDS e também gestores dos serviços de HIV/AIDS do estado. Este foi o primeiro seminário presencial realizado desde 2017 e teve o objetivo de discutir a conjuntura atual das políticas de HIV/AIDS a nível estadual e federal, além de definir uma agenda política nos próximos anos.
Criada em 1996, a Articulação Aids PE é um fórum de articulação política que reúne organizações da sociedade civil, redes, movimentos e ativistas independentes que atuam na luta contra a epidemia da Aids no estado. Ao longo de seus 26 anos de atuação, o grupo tem desenvolvido ações de Advocacy e controle social, atuando diretamente para a construção de respostas ao HIV/AIDS, auxiliando na criação de políticas públicas e monitorando sua implementação.
José Cândido, representante da Rede Nacional das Pessoas que Vivem com HIV e AIDS em Pernambuco (RNP+ PE) e integrante da Articulação, explica que o seminário buscou retomar a visibilidade da Aids na agenda da Saúde Pública. “Tivemos dois anos de pandemia e a Covid-19 contribuiu muito para essa invisibilização da AIDS que vemos hoje; a gente precisa pautar a política de HIV/AIDS no estado de PE, para que possamos desenvolver soluções para os problemas da saúde e assistência social para as pessoas que vivem com HIV/AIDS”.
Para o assessor de projetos da Gestos, Jair Brandão, que também integra a Articulação Aids, discutir os rumos das políticas de HIV/AIDS a nível estadual e federal é urgente para definir uma agenda política para os próximos anos. “Mais do que nunca, pensamos sobre como tirar daqui propostas para a política de HIV/AIDS do estado de PE, uma vez que teremos uma nova gestão a partir do próximo ano e que não sabemos quem vai coordenar a política de HIV/AIDS”. Ele também acredita que a realização do encontro após o segundo turno das eleições tenha sido benéfico para o movimento. “Agora podemos pensar em propostas para o ano que vem e os desdobramentos desse evento vão contribuir para que possamos dialogar com a próxima gestão da política de AIDS, colocando nossas propostas (principalmente as que saírem daqui)”, complementa.
Atualmente, cerca de 32 mil pessoas vivendo com HIV/AIDS estão em tratamento em Pernambuco. De acordo com o último boletim epidemiológico de HIV/AIDS do Ministério da Saúde, só em 2021, o estado registrou 2.178 novos casos de HIV e 527 casos de Aids. No mesmo ano, 396 pessoas morreram em decorrência da doença. “Quando a gente retoma um passado de 40 anos atrás, às vezes temos a impressão de que estamos falando de ontem”, comenta o enfermeiro sanitarista e professor da Universidade de Pernambuco (UPE), Itamar Lages. “Hoje, temos suprimido da política nacional (através do Ministério da Saúde) os subsídios que garantem atenção à saúde; o que tem determinado o adoecimento, a péssima qualidade de vida e a morte. Ou seja, continuamos vivendo um momento em que os óbitos em decorrência da AIDS continuam altos, embora o diagnóstico de HIV/AIDS não seja mais um determinante para a morte. Veja que contradição!”
Para o comunicador e ativista, Thiago Jerohan, “a grande síntese disso é justamente o fato que o problema da crise da Aids é resultado das desigualdades sociais e não do vírus – assim como qualquer outra crise; isso pôde ser visto com a Covid-19, com a Monkeypox e diversos outros problemas que esgarçam as dificuldades de lidar com as epidemias”, destacando ainda que “é preciso entender que lidar com HIV é, transversalmente, lidar com todos os processos de desigualdade […] quando a gente fala em Saúde Pública, não estamos falando só da questão tecnicista da saúde, mas de políticas públicas que atingem pessoas que estão dentro dos contextos mais variados possíveis”.
“Eu acho que o evento foi fundamental para armar o Movimento de HIV/AIDS no estado para enfrentar os desafios futuros que se iniciam a partir dos próximos governos [federal e estadual]”, comenta Nise Santos, enfermeira do Espaço Saúde e Sexualidade da Gestos; “ainda existem muitas indecisões no futuro e o seminário está munindo o movimento com pautas, com agenda, com concepção teórica e política para dizer qual é a política de HIV/AIDS que a gente quer que o governo federal e estadual implementem”, conclui.
As contribuições do seminário serão sistematizadas e um documento político contendo as deliberações e propostas das organizações que compõem a Articulação Aids para a política de HIV/AIDS nos próximos anos será divulgado em breve.