Tic-tac-tic-tac
As eleições não nos livrarão tão cedo da ultradireita fascista, herança da era Temer-Bolsonaro.
Alessandra Nilo, Coordenadora Geral da Gestos – Soropositividade, Comunicação e Gênero e Co-facilitadora do Grupo de Trabalho da Sociedade Civil sobre a Agenda 2030.
Texto publicado originalmente em 21 de setembro de 2022, pela coluna de Guga Noblat no portal Metrópoles.
– Em contagem regressiva, o mundo acompanha as eleições brasileiras.
O “cronômetro” foi acionado e ouço um tic-tac a marcar o tempo que falta para o Brasil se livrar do seu pior governo, desde a redemocratização. Ou seria o som de uma bomba-relógio, prestes a explodir? Não se sabe. Não há bola de cristal e ninguém – ninguém – pode afirmar o que irá acontecer nos próximos dias.
De certo mesmo, só há, em tons cada vez mais altos, os ataques do Presidente da República ao sistema democrático e o fato de que hoje ocupamos, perante o mundo, a vanguarda dos retrocessos.
E o Presidente Bolsonaro, não dá trégua. Esta semana, depois de enlamear o funeral da Rainha Elizabeth, ele levou ao trend topic do twitter o Bolsonaro World Shame (vergonha mundial). E ontem transformou a abertura dos debates da 77º Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) em um horário eleitoral de informações distorcidas ou mentirosas, inclusive afirmando que o Brasil segue alinhado aos compromissos globais de desenvolvimento, quando os dados oficiais mostram o contrario: de acordo com o Relatório Luz da Sociedade Civil para a Agenda 2030, editado pela Gestos e pelo GT Agenda 2030, em 2022, 80,35% das 168 metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis (ODS) analisadas estão em retrocesso, ameaçadas ou estagnadas.
O momento, portanto, requer a construção de muitas alianças, até chegarmos à transmissão da faixa presidencial. Além de cuidar da agenda doméstica, temos que manter comunidade internacional mobilizada e por isso, cientes das ameaças em curso, iniciamos uma articulada incidência em três atos.
O primeiro foi no início de setembro, em Genebra, onde fizemos trinta reuniões bilaterais com diferentes países para denunciar o governo federal, aproveitando o período de pré-sessão da Revisão Periódica Universal do Brasil no Conselho de Direitos Humanos da ONU . Os encontros foram a base para a segunda ação, o lançamento no dia mundial da Democracia (15/09) de uma Carta de Alerta, assinada por 170 das mais sérias organizações do país, pedindo à toda a comunidade internacional que seja vocal em apoio ao nosso Estado Democrático.
Mostrar o que há de pior no próprio país, não é trabalho que se faça com alegria, mas é necessário. Por isso, hoje 21/09, realizaremos uma manifestação pública, às 10h, na rampa do Congresso Nacional. Esse terceiro e último ato antes das eleições é parte da Semana Global de Ação pela Agenda 2030 que terá atividades em vários países. No Brasil ela foca nas Eleições 2022 e é organizada pelo GT Agenda 2030 e pela Universidade de Brasília (UNB2030), com apoio da Action for Sustainable Development.
Já é possível afirmar que intentos golpistas não serão aceitos pela maioria dos países, ainda que seu sucesso dependa da capacidade de reagir das instituições nacionais. O mundo já é testemunha dos nossos augúrios, mas as tensões não acabarão em outubro. Até 31 de dezembro muito pode acontecer e já entendemos que estas eleições não nos livrarão tão cedo da ultradireita fascista, herança da era Temer-Bolsonaro, que agora está mais organizada. Melhor que essa luz de alerta continue acesa, por um bom tempo. TIC-TAC-TIC-TAC-TIC…