Porto Alegre: 23,8% das pessoas com HIV/Aids se isolaram da família e dos amigos
O webinário que apresentou a análise em profundidade do Índice de Estima em Relação às Pessoas Vivendo com HIV e AIDS da cidade de Porto Alegre, realizado na última sexta-feira, dia 11, destacou que o diagnóstico positivo influencia a maneira que as pessoas se veem e se relacionam com parentes e amigos. De acordo com a pesquisa, 23,8% das pessoas entrevistadas afirmaram que se isolaram de amigos e família em função do diagnóstico; 32,7% decidiram não fazer sexo e 26,4% decidiram não se candidatarem para uma vaga de emprego.
Desde o início de novembro, o UNAIDS, a Gestos – Soropositividade, Comunicação e Gênero e a PUC-RS realizaram uma série de webinários para apresentação das análises em profundidade de cinco cidades (Manaus/AM, São Paulo/SP, Recife/PE, Salvador/BA e Porto Alegre/RS); e quatro populações-chave: mulheres cis, população trans, população negra, homens gays, bissexuais e outros homens que fazem sexo com homens. Os webinários foram direcionados para movimentos sociais e pessoas que atuam em defesa dos direitos das pessoas vivendo com HIV e Aids; para profissionais de saúde; para parlamentares e profissionais que trabalham nos Poderes Legislativo e Judiciário. O último webinário apresentado foi o de Porto Alegre.
Na cidade, 29% das pessoas que vivem com HIV perderam a fonte de renda ou emprego, ou foram rejeitadas em uma oferta de emprego em função de sua sorologia. O Brasil possui legislação específica que garante o direito ao sigilo da sorologia para o HIV. Ainda em relação à situação trabalhista, 14% afirmaram que a natureza de seu trabalho já mudou, ou uma promoção já lhe foi negada porque a pessoa é soropositiva(o) para o HIV.
“Estamos entrando na quarta década e não considero que tenhamos avançado em relação ao estigma e ao preconceito em relação às pessoas vivendo com HIV e Aids. Diante das pesquisas científicas e de tudo o que já se avançou em relação à prevenção e ao tratamento, é injustificável que exista ainda um estigma tão forte em relação ao HIV e à Aids, que faz com que as pessoas reduzam sua vida social e reduzam sua existência por medo de serem discriminadas e excluídas”, considera Jô Meneses, coordenadora de Programas Institucionais da Gestos.
Em relação aos serviços de saúde, 23,6% das pessoas entrevistadas afirmaram que o despreparo para lidar com sua sorologia foi o que as afastou ou as fez evitarem receber cuidados e/ou tratamento relativo ao HIV. Cerca de 11% também disseram ter medo que profissionais de saúde as tratassem mal ou revelassem a sorologia sem consentimento.
“Gostaria de fazer um apelo especial para que as pessoas presentes nesse seminário usem a ferramenta do Índice de Estigma relacionado às pessoas que vivem com HIV para que as políticas públicas mais efetivas contribuam para que os serviços de saúde fiquem livres de estigma. Desejo que as pessoas que vivem com HIV e AIDS tenham suas vozes ouvidas, seus direitos assegurados e suas demandas atendidas”, destacou Claudia Velasquez, diretora e representante do UNAIDS.
Segundo o Boletim Epidemiológico de HIV/AIDS publicado pelo Ministério da Saúde em 2020, o Rio Grande do Sul é o estado que apresenta a maior taxa de detecção de AIDS do Brasil: 28,3 para 100 mil habitantes. A capital, Porto Alegre apresenta uma taxa ainda maior: 58,5 a cada 100 mil habitantes. Este valor é mais que o dobro do estado e 3,3 vezes maior que a taxa média do Brasil, que é de 17,8%.
“A gente sabe que apesar dos avanços biomédicos e novas tecnologias, ainda enfrentar estigma é muito difícil. Pouco mudou nesse campo se comparado ao início da epidemia. No caso das mulheres que vivem com HIV, elas são afetadas de uma forma diferente. Por isso, este recorte de gênero, raça e local da pesquisa é fundamental para delinear as nossas ações”, analisou Silvia Aloia, do Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas (MNCP).
O Índice de Estigma em Relação às Pessoas Vivendo com HIV e Aids no Brasil é uma pesquisa promovida pela Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV e AIDS (RNP+); pelo Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas (MNCP); pela Rede Nacional de Adolescentes e Jovens Vivendo com HIV e AIDS (RNAJVHA); pela Rede Nacional de Mulheres Travestis e Transexuais e Homens Trans vivendo e convivendo com HIV/AIDS (RNTTHP). A pesquisa foi apoiada pelo Programa das Nações Unidas para o HIV e a Aids (UNAIDS), pela Gestos — Soropositividade, Comunicação e Gênero, e pela PUC do Rio Grande do Sul (PUC-RS), e pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Foi realizada em sete capitais: Manaus-AM; São Paulo-SP; Recife-PE; Rio de Janeiro-RJ; Brasília-DF; Salvador-BA; e Porto Alegre-RS.
Os dados completos da análise em profundidade de Porto Alegre encontram-se neste link.
Acesse o Índice de Estigma em Relação às Pessoas Vivendo com HIV e Aids.