Mais de 60% da população trans que vive com HIV teve dificuldades para atender necessidades básicas
A análise em profundidade das entrevistas com a população trans do Índice de Estigma em Relação às Pessoas Vivendo com HIV e AIDS apresenta evidências sobre a vulnerabilidade e a discriminação sobre essa população. No ano da pesquisa, 16,7% das pessoas trans entrevistadas declararam não ter conseguido atender as necessidades básicas (comida, moradia e vestimenta, por exemplo) a maior parte do tempo, enquanto 45,7% informaram não ter conseguido atender as necessidades básicas algumas vezes.
Outro dado alarmante em relação à população trans que vive com HIV ou AIDS é a escolaridade. Apenas 16,7% das pessoas entrevistadas dessa população concluíram o ensino superior ou universitário e 10,2%, o ensino técnico ou profissionalizante.
Entre as populações-chave analisadas nessa pesquisa, a população trans é a que menos acessa o ensino superior. Na população negra, o percentual de pessoas que concluíram o ensino superior atinge os 23%, enquanto que na análise de homens homossexuais, homens bissexuais e outros homens que fazem sexo com homens essa parcela corresponde a 43,1% das pessoas entrevistadas.
A limitação do acesso à educação também se reflete na situação de trabalho da população trans: 36,1% das pessoas entrevistadas estão desempregadas, além de 15,7% que estão em outras condições de trabalho (não se encaixam no trabalho autônomo, nem formal).
Além de todas as barreiras como escolaridade, trabalho e condições mínimas de vida, que são barreiras para que as pessoas trans que vivem com HIV acessem os serviços de saúde, o estigma é mais uma barreira que pode limitar a adesão ao tratamento. De acordo com a pesquisa, 11,1% das pessoas entrevistadas informaram que profissionais de saúde de serviços relativos ao HIV minimizaram contato físico ou tomaram precauções extras em função da sorologia do/a paciente. Outro dado também chama atenção: 1,9% das pessoas foram abusadas fisicamente por causa da sorologia no serviço de saúde relativo ao HIV e 6,5% das pessoas entrevistadas foram abusadas verbalmente.
No Brasil, a revelação da sorologia sem consentimento é crime previsto por lei. Porém, esse não foi um impedimento para que 11,1% da população trans tivessem sua sorologia revelada sem consentimento no serviço de saúde relativo ao HIV.
Os dados completos da análise em profundidade da população trans encontram-se no arquivo em anexo.
Índice de Estigma em Relação às Pessoas Vivendo com HIV e Aids no Brasil
O Índice de Estigma em Relação às Pessoas Vivendo com HIV e Aids no Brasil é promovida pelas Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV e AIDS (RNP+); Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas (MNCP); Rede Nacional de Adolescentes e Jovens Vivendo com HIV e AIDS (RNAJVHA); Rede Nacional de Mulheres Travestis e Transexuais e Homens Trans vivendo e convivendo com HIV/AIDS (RNTTHP). A pesquisa foi apoiada pelo Programa das Nações Unidas para o HIV e a Aids (UNAIDS), pela Gestos — Soropositividade, Comunicação e Gênero, e pela PUC do Rio Grande do Sul (PUC-RS), e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Foi realizada em sete capitais: Manaus-AM; São Paulo-SP; Recife-PE; Rio de Janeiro-RJ; Brasília-DF; Salvador-BA; e Porto Alegre-RS. Saiba mais aqui.