COVID-19: pesquisa do UNAIDS mostra situação das pessoas vivendo com HIV/Aids durante pandemia
Uma pesquisa realizada pelo UNAIDS Brasil com 2.893 pessoas vivendo com HIV/Aids em todo o país, durante esse período de distanciamento social provocado pela pandemia do novo coronavírus, mostrou que 87% das pessoas que vivem com HIV/Aids estão conseguindo realizar o distanciamento social exigido neste momento. Do total de questionários respondidos, 13% disseram que não estão permanecendo em casa. Os dois principais motivos apontados foram: a necessidade de trabalhar e o trabalho não deu opção para permanecer em casa (48,6%); e a necessidade de trabalhar e o receio de expor a sorologia no ambiente de trabalho (34,7%).
Apesar de mostrar que quase 90% das pessoas vivendo com HIV/Aids estão conseguindo permanecer em casa neste momento – algo importante para o controle da pandemia e também para proteger a saúde das pessoas vivendo com HIV/Aids (consideradas grupo vulnerável ao novo coronavírus), as justificativas apontada pelos 13% que permanecem com as atividades normais revelam a realidade de estigma e discriminação ainda experenciada por essas pessoas.
Das respostas ao levantamento do UNAIDS, 84,2% se identificaram com o gênero masculino e 15,2% com o gênero feminino; 0,2% se identificaram com gênero não-binário e 0,3% preferiram não responder. Em relação às populações-chave para o HIV e a Aids, 79,6% dos que responderam foram gays e homens que fazem sexo com outros homens; 2,1% são pessoas trans; 0,4% são pessoas que usam drogas; e 17,4% disseram não fazer parte das populações-chave.
Os grupos que menos estão seguindo a quarentena das populações-chave são as pessoas que usam drogas (18,2%) e as que trabalham com sexo (17,6%). “Essas pessoas integram um grupo mais amplo de pessoas que já estavam em situação de vulnerabilidade e, na pandemia, teve sua situação agravada”, analisa a antropóloga Jô Meneses, coordenadora de Programas Institucionais da Gestos.
Para Jô Meneses, o benefício emergencial para este momento de pandemia da COVID-19 não foi pensado caso a caso, o que tem provocado vários problemas. Ela destaca que, além das dificuldades colocadas pelo Governo Federal para a distribuição dos recursos, algumas pessoas não conseguirão ter acesso ao aplicativo, por vários motivos, incluindo não terem acesso aos meios digitais e à internet para se cadastrarem.
Insumos de proteção contra a COVID-19
Do total de questionários respondidos, 17% não têm em suas casas os insumos de proteção pessoal e doméstica aconselhados pelos especialistas na prevenção do COVID-19, em especial máscaras, álcool em gel e luvas.
Preocupação com a continuidade do tratamento do HIV/Aids
A grande maioria dos participantes da pesquisa (95,8%) está realizando o tratamento antirretroviral para o HIV/Aids e 10% destas pessoas encontraram dificuldades para reabastecer seu estoque pessoal de medicamentos. Para 41,4% o maior problema para não conseguirem pegar a medicação foi a distância de suas casas para as unidades de saúde que realizam essa entrega. Entre os questionários respondidos, 28,8% encontraram dificuldades na prestação de algum serviço de saúde, ou tiveram algum serviço (exame, consulta, etc) cancelado por conta da pandemia da COVID-19.
Esses resultados reforçam o posicionamento do Conselho Nacional de Saúde (CNS) para que o Governo Federal crie medidas de proteção e apoio especificas para as pessoas com doenças crônicas e patológicas, incluindo a população que vive com HIV/Aids, nesse período de pandemia da COVID-19.
Entre as indicações do CNS estão a criação de alternativas para a entrega de medicamentos e itens necessários para a manutenção da vida dessas pessoas, além de uma solução para que o contato com os médicos especializados não seja suspenso.
Saúde mental e outras demandas em tempos de pandemia
Das pessoas que responderam ao questionário do UNAIDS Brasil, 66,7% disseram ter sentido alterações de humor, ou em seus comportamentos e hábitos durante a pandemia da COVID-19. Para 50,4%, existe a necessidade de apoio psicológico para lidar com a ansiedade causada pela pandemia.
A necessidade de receber assistência social (cestas básicas, apoio financeiro, etc) foi relatada por 42,9% dos questionários respondidos. O mesmo percentual indicou a necessidade de melhorar os mecanismos para fornecer antirretrovirais para pessoas vivendo com HIV/Aids. Outras demandas apontadas foram serviço psicossocial (8,2%); serviços que abordam estigma e discriminação (3,8%); testagem e aconselhamento sobre Infecções Sexualmente Transmissíveis (1,7%); outros (0,3%) e informações (0,2%).
Pessoas não se sentem informadas sobre o novo coronavírus
Outro dado interessante do levantamento aponta que nada menos que 46% das pessoas entrevistadas sentem que não estão recebendo informações suficientes sobre como se prevenir efetivamente da COVID-19 e sobre a infecção viral.
O levantamento mostrou que a televisão tem sido a principal fonte de informações sobre a pandemia para as pessoas vivendo com HIV e Aids, seguida pelo Site e as redes sociais do Ministério da Saúde (24%), Serviços/Profissionais de Saúde (7%), Amigos/Familiares (6%), Sites/Redes Sociais do UNAIDS (4%), Redes e Movimentos de Pessoas Vivendo com HIV/Aids (3%), Organizações Não-Governamentais (2%) e só depois Outros Veículos de Comunicação, Redes Sociais e Outras fontes de informação (cada um com 1% das citações).
Das pessoas que responderam ao questionário do UNAIDS, 65% gostariam de receber dicas e cuidados específicos para a população vivendo com HIV/Aids.
Como foi realizada a pesquisa
A pesquisa foi realizada de forma remota, através de questionário compartilhado em grupos de apoio e prevenção, como a RNP+ e o MNCP. De acordo com a faixa etária, 64% das pessoas que responderam estão na faixa entre 20 e 34 anos. Em relação às regiões brasileiras, 52% moram na Região Sudeste; 23% na Região Nordeste; 11% na Região Sul; 8%, no Centro-Oeste; e 6% na Região Norte do Brasil.