No mês das mulheres, Gestos reafirma nas ruas seu compromisso com os direitos de todas as mulheres

Março é mês de reafirmar a luta de todas as mulheres, atualmente diante de um cenário de perda de direitos e de ameaças associadas ao capitalismo e à extrema direita, que negam a pauta de direitos — muitos deles já estabelecidos, acordados e legislados — e criam obstáculos de acesso. É urgente visibilizar essa situação ocupando as ruas do país como fizeram cerca de 30 movimentos e organizações feministas, com presença de sindicatos, entidades setoriais e partidos políticos, no último sábado, 8 de março.
“Estamos no desequilíbrio de forças extremo, então precisamos dessas mobilizações para dizer ‘estamos vivas, estamos atentas e não aceitamos retrocessos’”, diz a coordenadora de articulação política, relações internacionais e comunicação da Gestos, Juliana César.
Em Pernambuco, o 8M aconteceu em Olinda, pelo aborto legal, seguro e gratuito e por justiça reprodutiva; pelo fim do feminicídio, transfeminicídio e lesbocídio; para exigir tarifa zero, transporte público, seguro e de qualidade; dizer não às privatizações; exigir o fim do racismo e uma educação laica; o fim da escala 6 X 1 e do ajuste fiscal; moradia digna, água, saneamento básico e justiça climática; reafirmar que não será aceita anistia para golpista; em solidariedade aos imigrantes, contra a guerra no Congo e por uma Palestina livre; pelo combate à fome e por soberania e segurança alimentar.
“A Gestos integra a marcha do 8M porque temos um avanço do fundamentalismo da extrema-direita no mundo e isso afeta particularmente a pauta que é para nós muito importante, dos direitos sexuais e reprodutivos, da prevenção e da cidadania das pessoas LGBTQIAPN+”, destaca a coordenadora de programas institucionais da Gestos, Jô Meneses.
“Nós mulheres e a Gestos, com a sua tradição de todo 8 de Março estar na rua, nos fazemos presente para fortalecer que não vão nos silenciar, que nós estaremos sempre com os nossos corpos e com as nossas vozes falando contra todos os retrocessos e por garantia dos direitos das mulheres cis e trans e da população LGBTQIAPN+”, complemenmta Jô.
CENÁRIO INTERNACIONAL – Juliana César chama a atenção para o perigo de poderes estabelecidos que não têm o menor constrangimento de negar suas próprias palavras e seus compromissos assumidos: “Temos, aqui no Brasil, um Congresso Nacional muito empenhado em seguir essa tendência mundial e, de maneira formal, ou seja, legalmente, remover e negar direitos da população, além de criar obstáculos ilegais, que não são pensados em lei, de acesso a esses direitos. Um exemplo é a diminuição brusca do número de serviços que fazem atendimento ao aborto legal”.
No cenário internacional, o presidente dos Estados Unidos Donald Trump vem estabelecendo parâmetros e validando discursos de ódio e de negação de direitos com repercussões em várias partes do mundo. Parte do Brasil tem importado, legitimado e validado muitos desses discursos radicais, que já existiam aqui e terminam encontrando ainda mais ressonância.
Além disso, Trump aposta numa política de negação financeira e de apoio a pautas de diversidade, equidade e inclusão, com repercussão também na esfera privada. “Várias empresas privadas que tinham programas de inclusão, que beneficiavam mulheres, pessoas negras, LGBTQIAPN+ e várias populações vulnerabilizadas, já removeram esses programas e hoje os negam”, destaca Juliana.
O presidente norte-americano também retirou recursos financeiros da cooperação internacional, seja através da Usaid, agência para o desenvolvimento Internacional, ou do Plano de Emergência do Presidente dos EUA para o Alívio da Aids (Pepfar).
Parte das medidas trumpistas impacta diretamente causas como a da Gestos e a pauta do HIV AIDS no mundo. “No Brasil, temos o SUS, então a maioria das ações de saúde, especificamente as de HIV, estão cobertas pelo poder público brasileiro. Mas a remoção, por exemplo, de recursos para as Nações Unidas vai tirar para o futuro — e isso já está acontecendo desde agora —, recursos que iam para o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento é o órgão da Organização das Nações Unidas (Pnud), a ONU Mulheres, para o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (Unaids) e que eram revertidos em ações ou com o governo brasileiro ou com a sociedade civil”, explica a coordenadora.
Sem falar que a saída dos Estados Unidos desses órgãos faz com que alguns países sigam o exemplo e anunciem que vão remover cooperações internacionais e outros revisem suas cooperações, seja para cobrir o buraco que ficou em seus próprios países ou para investir estrategicamente de uma outra maneira.